A HISTÓRIA
O
primeiro experimento conhecido de conexão de computadores em rede foi
feito em 1965, nos estados unidos, por obra de dois cientistas: Lawrence
Roberts e Thomas Merril. A experiência foi realizada por meio de uma
linha telefônica discada de baixa velocidade, fazendo a conexão entre
dois centros de pesquisa em Massachusetts e na Califórnia. Estava
plantada ali a semente para o que hoje é a Internet – mãe de todas as
redes.
O nascimento das redes de computadores, não por acaso,
esta associada a corrida espacial. Boa parte dos elementos e aplicações
essenciais para a comunicação entre computadores, como o protocolo
TCP/IP, a tecnologia de comutação de pacotes de dados e o correio
eletrônico, estão relacionados ao desenvolvimento da Arpanet, a rede que
deu origem a internet. Ela foi criada por um programa desenvolvido pela
Advanced Research Projects Agency (ARPA) mais tarde rebatizada como
DARPA.
A agencia nasceu de uma iniciativa do departamento de
defesa dos estados unidos, na época preocupado em não perder terreno na
corrida tecnológica deflagrada pelos russos com o lançamento do satélite
Sputinik, em 1957. Roberts, acadêmico do MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts), era um dos integrantes da DARPA e um dos pais da
Arpanet, que começou em 1969 conectando quatro universidades: UCLA –
Universidade da Califórnia em Los Angeles, Stanford, Santa Bárbara e
Utah. A separação dos militares da Arpanet só ocorreu em 1983, com a
criação da Milnet.
Alguns dos marcos importantes para a evolução
das redes locais de computadores ocorreram nos anos 70. Ate a década
anterior os computadores eram maquinas gigantescas que processavam
informações por meio da leitura de cartões ou fitas magnéticas. Não
havia interação entre o usuário e a maquina. No final dos anos 60
ocorreram os primeiros avanços que resultaram nos sistemas multiusuários
de tempo compartilhado. Por meio de terminais interativos, diferentes
usuários revezavam-se na utilização do computador central. A IBM reinava
praticamente sozinha nessa época.
A partir de 1970, com o
desenvolvimento dos minicomputadores de 32 bits, os grandes fabricantes,
como IBM, HP e Digital, já começavam a planejar soluções com o objetivo
de distribuir o poder de processamento dos mainframes e assim facilitar
o acesso às informações. O lançamento do VAX pela Digital, em 1977,
estava calcado numa estratégia de criar uma arquitetura de rede de
computadores. Com isso, a empresa esperava levar vantagem sobre a rival
Big Blue.
Quando um Vax era iniciado, ele já começava a procurar
por outras maquinas para se comunicar, um procedimento ousado numa época
em que poucas pessoas tinham idéia do que era uma rede. A estratégia
deu certo e o VAX alcançou grande popularidade, principalmente em
aplicações cientificas e de engenharia. Muitos anos depois, a Digital
acabaria sendo comprada pela Compaq, que por sua vez, foi incorporada a
HP. Mas as inovações surgidas com o VAX e seu sistema operacional, o
VMS, teriam grandes influencias nos computadores que viriam depois.
O
sistema operacional Unix, desenvolvido em 1969 nos laboratórios Bell,
trouxe inovações que logo o tornou popular nas universidades e nos
centros de pesquisa a partir de 1974. Era um sistema portável e modular,
capaz de rodar em vários computadores e evoluir junto com o hardware.
Os sistemas operacionais da época eram escritos em assembly, linguagem
especifica para a plataforma de hardware. O Unix foi escrito quase
totalmente em C, uma linguagem de alto nível. Isso deu a ele uma inédita
flexibilidade. No começo da década, ferramentas importantes foram
criadas para o Unix, como o e-mail, o Telnet, que permitia o uso de
terminais remotos, e o FTP, que se transformou no padrão de
transferência de arquivos entre computadores em rede. Foi essa
plataforma que nasceu a maior parte das tecnologias que hoje formam a
Internet.
ETHERNET
Um
dos principais saltos tecnológicos que permitiram a popularização das
redes foi o desenvolvimento da tecnologia ethernet. Para se ter uma
ideia do avanço que essa invenção representou, basta lembrar que, até
aquela época, os computadores não compartilhavam um cabo comum de
conexão. Cada estação era ligada a outra numa distancia não superior a 2
metros. O pai da Ethernet é Robert Metcalfe, um dos gênios produzidos
pelo MIT e por Harvard e fundador da 3Com.
Metcalfe
era um dos pesquisadores do laboratório Parc, que a Xerox mantém até
hoje em Palo Alto, na Califórnia. Em 1972, ele recebeu a missão de criar
um sistema que permitisse a conexão das estações Xerox Alto entre si e
com os servidores. A idéia era que todos os pesquisadores do Parc
pudessem compartilhar as recém-desenvolvidas impressoras a laser.
Uma
das lendas a respeito da criação da Ethernet é que Metcalfe e sua
equipe tomaram por base um sistema desenvolvido por um casal de
estudantes da universidade de Aloha, no Havaí. Utilizando um cabo
coaxial, eles interligaram computadores em duas ilhas para poder
conversar. O fato é que, antes de chamar-se Ethernet, a partir de 1973, o
sistema de Metcalfe tinha o nome de Alto Aloha Network. Ele mudou a
denominação, primeiramente para deixar claro que a Ethernet poderia
funcionar em qualquer computador e não apenas nas estações Xerox. E
também para reforçar a diferença em relação ao método de acesso CSMA
(Carrier Sense Multiple Access) do sistema Aloha. A palavra ether foi
uma referencia à propagação de ondas pelo espaço.
O sistema de
Metcalfe acrescentou duas letras, CD (de Collision Detection) à sigla
CSMA. Um detalhe importante, porque o recurso de detecção de colisão
impede que dois dispositivos acessem o mesmo nó de forma simultânea.
Assim, o sistema Ethernet verifica se a rede está livre para enviar a
mensagem. Se não estiver a mensagem fica numa fila de espera para ser
transmitida. A ethernet começou com uma banda de 2Mbps que permitia
conectar 100 estações em até 1 quilometro de cabo.
No inicio,
usava-se um cabo coaxial chamado yellow cable, de diâmetro avantajado. A
topologia era um desenho de barramento (algo parecido com um varal) no
qual o computador ia sendo pendurado. O conector desse sistema foi
apelidado de vampiro, porque “mordia” o cabo em pontos determinados.
Dali saia um cabo serial que se ligava à placa de rede. O yellow cable
podia ser instalado no teto ou no chão, conectado ao cabo menor.
O MERCADO DA INFORMAÇÃO
A
Ethernet não foi a única tecnologia de acesso para redes locais criada
nessa época, mas certamente se tornou o padrão mais difundido, por sua
simplicidade e eficiência, chegando a mais de 100 milhões de nós no
mundo todo. As tecnologias Token Ring, da IBM, e a Arcnet, da Datapoint,
chegaram a ter seus dias de gloria (esta ultima ainda é largamente
empregada no Japão para processos de automação industrial), mas perderam
terreno para a poderosa concorrente. O primeiro impulso para difusão do
padrão Ethernet ocorreu quando a Digital, a Intel e a Xerox, em 1980
formaram um consorcio (DIX) para desenvolver e disseminar o padrão que
rapidamente evoluiu de 2Mbps para 10Mbps.
O sistema Ethernet foi
padronizado pelas especificações do IEEE (Instituto dos Engenheiros de
Eletricidade e Eletrônica), órgão que, entre outras funções, elabora
normas técnicas de engenharia eletrônica. O protocolo Ethernet
corresponde à especificação 802.3 do IEEE, publicada pela primeira vez
em 1985.
A conexão Ethernet utilizava, inicialmente, dois tipos
de cabos coaxiais, um mais grosso (10 Base5) e outro mais fino (10
Base2). A partir de 1990, com o aumento da velocidade para 100Mbps,
passou-se a usar o cabo de par trançado (10Base-T e 100Base-T), que tem a
vantagem de ser mais flexível e de baixo custo. Com o advento da fibra
ótica, o padrão Ethernet já esta em sua terceira geração. A Gigabit
Ethernet, com velocidade de até 1Gbps.
Na década de 80, com a
chegada dos computadores pessoais, as redes locais começaram a ganhar
impulso. O mercado corporativo demandava soluções para compartilhar os
elementos mais caros da infra-estrutura de TI (impressoras e discos
rígidos). A Novell, uma empresa fundada por mórmons em Salt Lake City,
no estado americano de Utah, desenvolveu em 1983, o sistema operacional
NetWare para servidores, que usava o protocolo de comunicação IPX, mais
simples que o TCP/IP. O protocolo rapidamente ganhou força e chegou a
dominar 70% do mercado mundial até meados de 1993. A década de 80 foi
marcada pela dificuldade de comunicação entres redes locais que e
formavam e que eram vistas pelo mercado como ilhas de computadores com
soluções proprietárias, como SNA, da IBM, DECnet, da Digital, NetWare,
da Novell, e NetBIOS da Microsoft.
Esse problema fez
com que um casal de namorados da universidade de Stanford, Sandra
Lerner e Leonard Bosack, decidisse encontrar uma solução para que as
redes locais de cada departamento da universidade pudessem conversar.
Diz à lenda que a preocupação do casal, que mais tarde fundaria a Cisco,
era trocar e-mails. E por isso inventaram o roteador, o equipamento que
permitiu a conexão de duas redes normalmente incompatíveis.
A
verdade é que eles não inventaram, mas aperfeiçoaram e muito o projeto
inical de um engenheiro chamado Bill Yeager. O produto foi lançado
comercialmente em 1987. A Cisco hoje vale Bilhões e o resto é Historia. O
quebra-cabeça das redes começa a se fechar a partir do momento que a
Arpanet, em 1983, passa a ser de fato a Internet, adotando
definitivamente a família de protocolos TCP/IP. No ano seguinte, surge
outra grande inovaçã o DNS (Domain Name System), mecanismo para resolver
o problema de nome e endereços de servidores na rede. Com a criação da
World Wide Web, em 1991, e o desenvolvimento do browser pelo fundador da
Netscape, Marc Andreesen, a Internet deslanchou para se tornar a grande
rede mundial de computadores.
A difusão do protocolo TCP/IP no
mundo corporativo que passou a ser a linguagem universal dos
computadores se deu a partir das plataformas Unix da Sun e da HP. Nos
anos 90, as empresas já estavam empenhadas em usar a informática para
melhorar o processo produtivo. O mercado começou a migrar de plataformas
proprietárias para sistemas abertos. A questão não era tecnologia, mas
economia. O sistema Unix tinha vários fornecedores, uma plataforma de
desenvolvimento mais simples e mais versátil que os tradicionais
mainframes. A pluralidade de plataformas passou a ser a regra nas
empresas. Isso só foi possível porque os obstáculos à interligação de
sistemas de diferentes fabricantes já haviam sido superados.
A EVOLUÇÃO
Em
1988, Dave Cutler, líder da equipe da Digital que havia criado o VMS, o
arrojado sistema operacional do VAX, foi contratado pela Microsoft. A
empresa já havia fracassado em uma tentativa anterior de competir com a
Novell. Seu primeiro sistema operacional de rede, o LAN Manager,
desenvolvido em conjunto com a IBM, não era páreo para o NetWare. Culter
levou para lá boa parte da sua antiga equipe de programadores e também a
filosofia que havia norteado a criação do VAX, de que a comunicação em
rede deve ser um atributo básico do sistema operacional. Ele liderou o
desenvolvimento do Windows NT, lançado em 1993. Com ele, a Microsoft
finalmente conseguiu conquistar algum espaço nos servidores. O NT também
foi base para o desenvolvimento do Windows 2000 e do Windows XP. De
certa forma o Windows XP é neto do velho VMS.
Se, há 40 anos, a
idéia de uma rede de computadores era a de vários aparelhos conectados,
hoje a rede transformou-se numa dos principais meios de interação entre
pessoas, de disseminação da informação e da realização de negócios. O
radio levou 38 anos até formar um publico de 50 milhões de pessoas. A TV
levou 13 anos. A Internet precisou apenas quatro anos para alcançar
essa marca. É um salto e tanto para toda a humanidade.
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